sábado, 17 de dezembro de 2011

ENTRE DOIS LADRÕES



3 criminosos (um deles Barrabás) discutem suas chances de serem perdoados de sua punição na cruz.
Personagens
Zacarias, Simão, Barrabás E Guarda

Script
GUARDA: Não se acomodem muito. Volto logo para pegá-los.
ZACARIAS: Se eu tivesse uma faca...
SIMÃO: O quê? Se tivesse o quê? Admita Zacarias, este é o fim.
ZACARIAS: Não necessariamente.
SIMÃO: Você tem um plano?
ZACARIAS: Bem que eu queria. Eu tenho uma esperança. Todo ano no Pessach, Pilatos liberta um dos prisioneiros.
BARRABÁS: Isso é uma bobagem.
SIMÃO: Tem mais alguém aqui conosco!
BARRABÁS: Acho que vocês dois são mesmo bem perigosos. Nem mesmo checaram a cela para saber se estavam sozinhos. Nem se incomodaram em saber para quem estão dando as costas.
ZACARIAS: E você seria quem? Nós estamos aqui por roubar dos romanos.
SIMÃO: Zacarias, eu acho...
ZACARIAS: Cale a boca, Simão.
BARRABÁS: O que faz você pensar que as pessoas vão clamar para libertá-lo? Quem se importa com uma dupla de ladrões?
ZACARIAS: E você por acaso tem uma chance melhor de perdão?
BARRABÁS: Perdão? Quem quer o perdão dos romanos? Eu passei minha vida matando romanos, atacando das sombras, esfaqueando quando nem estavam olhando. Não há perdão para mim. Vocês devem aceitar o fato de que são imperdoáveis, assim como eu.
ZACARIAS: Escute, grandalhão, todos fizemos nossa parte contra os romanos. Eu não quero passar minha última hora ouvindo o quanto você é mal.
BARRABÁS: Muito bem. Talvez EU não queira passar a MINHA última hora com dois ladrõezinhos de segunda, malandrinhos que usam a revolução como desculpa para roubar. Talvez eu queira ficar sozinho.
SIMÃO: É... Zacarias? Talvez devêssemos sentar ali no canto.
ZACARIAS: Ele não vai nos machucar. Ele só quer assustar você.
BARRABÁS: Você não parece se assustar fácil. Acho que já encarou a morte antes.
SIMÃO: Zacarias!
ZACARIAS: Talvez não tantas vezes quanto você.
BARRABÁS: Já esteve em uma crucificação?
ZACARIAS: Só quando os ricos estão assistindo.
BARRABÁS: Eu acho que nunca prestou muita atenção nas pobres vítimas da opressão romana penduradas ali, prestou?
ZACARIAS: Por que os vivos deveriam se preocupar com os mortos?
SIMÃO: Ótimo! Vou passar o final da minha vida ouvindo vocês dois tentando ser mais macho que o outro. Quem se importa quem é o melhor criminoso aqui? Vamos morrer logo!
BARRABÁS: A questão é: qual de nós está pronto para morrer?
ZACARIAS: Eu estou pronto!
BARRABÁS: Ótimo, porque os romanos adoram nos ouvir gritar. Eles amam nos ver sofrendo carregando todo o peso daquela travessa da cruz. Eles amam nos ver lutando para respirar, morrendo um pouco a cada respiração que lutamos para fazer.
SIMÃO: Ah, cara...
BARRABÁS: Você vai lhes dar esse gostinho? Você vai gritar como um bom menino?
SIMÃO: Nós podemos ser perdoados!
ZACARIAS: Isso mesmo. Eu tenho muitos amigos lá fora. Eles vão clamar por mim.
BARRABÁS: E quanto ao seu colega aqui? Só um pode sair livre.
SIMÃO: Oh Deus...
BARRABÁS: Encare isso: nós somos imperdoáveis, e sempre seremos. Pelo menos podemos morrer como homens.
GUARDA: (Entrando) Barrabás! Você deve agradecer aos deuses pela sua misericórdia.
BARRABÁS: Eu nunca vou agradecer àquelas estátuas em valor!
GUARDA: Escute, seu lixo sem valor, não se esqueça que você pode ser trazido de volta para cá num segundo se causar problemas de novo.
BARRABÁS: Do que você está falando?
GUARDA: Você está livre. Você recebeu o perdão do Governador Pilatos!
BARRABÁS: O quê?
GUARDA: Você é surdo? Você está livre! Perdoado! Agora tire essa cara feia daqui.
SIMÃO: Oh Deus. Quer dizer que...
BARRABÁS: Parece que terão uma cruz a menos nesta tarde. Lembrem do que eu disse.
GUARDA: Não, eles prenderam alguém ontem. Ele está assumindo o seu lugar.
BARRABÁS: Verdade? Quem?
GUARDA: Aquele rabino, qual o nome dele? Jesus!
SIMÃO: O que ele fez?
GUARDA: Atividades revolucionárias.
ZACARIAS: E o que isso quer dizer?
GUARDA: O que quer que queiramos que seja, Volto para buscá-los em um minuto.
ZACARIAS: Lá se vai nossa última esperança.
SIMÃO: Talvez Jesus...
ZACARIAS: Desista! Barrabás tinha razão. Somos imperdoáveis.
SIMÃO: Eu ouvi desse Jesus...
ZACARIAS: Se Jesus pudesse nos salvar, ele não estaria sob uma ordem de execução.
GUARDA: Está na hora, vamos!

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